3 julho, 2025
Hipovitaminose D — O que você precisa saber
Hipovitaminose D: o que é mito, o que é verdade, e quem realmente precisa se preocupar
A vitamina D ganhou muito destaque nas redes sociais e em conversas sobre saúde, mas, junto com a popularidade, surgem muitas informações contraditórias. Afinal, quem realmente precisa dosar ou repor vitamina D? E quais são os riscos de tomar demais?
Neste artigo, trago as orientações mais atuais com base no posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e na campanha Choosing Wisely, para que você entenda de forma clara e segura.
O que é a vitamina D e por que ela importa?
A vitamina D é um nutriente crucial, principalmente para a saúde dos seus ossos. Ela ajuda o corpo a absorver o cálcio que você ingere, garantindo que seus ossos se mantenham fortes.
A principal fonte de vitamina D é a exposição solar: sua pele produz vitamina D3 (colecalciferol) quando exposta aos raios UVB. Em menor grau, você também pode obtê-la pela alimentação, especialmente em peixes gordurosos (como salmão e sardinha), gema de ovo, cogumelos e alimentos fortificados.
Após ser produzida na pele ou ingerida, a vitamina D passa por duas etapas de ativação no organismo:
No fígado, ela é convertida em 25 hidroxivitamina D. Essa é a forma que os exames de sangue medem para avaliar sua reserva corporal.
Nos rins, ela se transforma na forma ativa (1,25 dihidroxivitamina D), que é usada em situações clínicas específicas.
Quais sintomas a hipovitaminose D pode causar?
Na maioria dos casos, a deficiência de vitamina D não causa sintomas. No entanto, uma hipovitaminose grave e crônica pode levar a problemas sérios, como raquitismo em crianças e osteomalácia em adultos. Além disso, pode estar associada a alguns sintomas como:
Dor generalizada no corpo
Fraqueza muscular
Fraturas
Quando faz sentido dosar a vitamina D?
Segundo a SBEM e a Choosing Wisely, a dosagem de vitamina D não deve ser feita rotineiramente em pessoas saudáveis.
A recomendação é que o exame seja reservado para pessoas que realmente têm um risco maior de deficiência, como:
Idosos (acima de 60 anos)
Pessoas com histórico de fraturas recorrentes ou osteoporose
Gestantes e lactantes
Pacientes com doença renal crônica ou hepática grave
Pacientes com doenças inflamatórias intestinais ou que fizeram cirurgia bariátrica
Pessoas em uso crônico de certos medicamentos (corticoides, anticonvulsivantes, antirretrovirais)
Quem tem doenças inflamatórias autoimunes (como lúpus, artrite reumatoide)
Pessoas com obesidade, diabetes ou sarcopenia
Aqueles com pouca exposição solar ou pele escura
Quais são os valores considerados normais?
De acordo com a diretriz da SBEM (2020), os valores de referência são:
≥ 20 ng/mL: Suficiente para adultos saudáveis até 60 anos.
≥ 30 ng/mL: Ideal para pessoas com fatores de risco (ex: osteoporose, doença renal crônica).
< 12 ng/mL: Indica deficiência grave.
> 100 ng/mL: Pode indicar toxicidade e risco de excesso de cálcio no sangue (hipercalcemia).
Um alerta: A intoxicação por vitamina D geralmente ocorre pelo uso inadequado de suplementos em doses muito altas. Isso pode levar a hipercalcemia, que se manifesta com náuseas, fraqueza, confusão mental e problemas renais.
Quando e como repor a vitamina D?
A reposição deve ser sempre personalizada, baseada nos seus fatores de risco e no nível de vitamina D no seu sangue (25 hidroxivitamina D).
Níveis < 12 ng/mL (deficiência grave): pode ser necessária uma dose inicial mais alta, seguida por uma dose de manutenção.
Níveis entre 12–30 ng/mL: a manutenção é feita com doses diárias específicas, sempre sob orientação médica.
E a exposição solar? Ela também é sua aliada! Estudos brasileiros sugerem que 10 a 15 minutos de exposição solar direta (sem protetor solar), em braços e pernas, entre 10h e 15h (durante primavera, outono e verão), podem ser suficientes para manter níveis adequados em pessoas saudáveis. Lembre-se que essa quantidade varia com a cor da pele e a latitude.
E o Cálcio: Uma dupla importante para seus ossos
Para a saúde óssea, a vitamina D e o cálcio trabalham juntos. Se a suplementação de vitamina D for indicada para você, é importante também garantir uma ingestão adequada de cálcio. A recomendação de ingestão diária de cálcio (seja pela alimentação ou suplementos, se necessário) é:
1000 mg: Para pessoas entre 19 e 70 anos.
1200 mg: Para pessoas com 71 anos ou mais.
1200 mg: Para mulheres entre 51 a 70 anos
Como Obter Cálcio Suficiente na Alimentação? Dicas Práticas:
Atingir a quantidade diária recomendada de cálcio pode ser mais fácil do que parece, com uma alimentação equilibrada. Priorize fontes como:
Leite e Derivados: Um copo de 200 ml de leite (integral ou desnatado) tem cerca de 240 a 300 mg de cálcio. Iogurtes e queijos também são ótimas opções.
Vegetais de Folhas Verde-Escuras: Couve, brócolis, espinafre e agrião são boas fontes.
Peixes: A sardinha em lata (com espinhas) é uma excelente fonte, podendo oferecer mais de 300 mg de cálcio por lata pequena.
Leguminosas e Sementes: Feijão, grão-de-bico, lentilha, gergelim (rico em cálcio), chia, linhaça e amêndoas contribuem para sua ingestão diária.
Alimentos Fortificados: Verifique os rótulos de bebidas vegetais (leite de soja, amêndoa, aveia), cereais e pães, pois muitos são enriquecidos com cálcio.
Lembre-se que o equilíbrio e a variedade na dieta são fundamentais para a absorção de todos os nutrientes.
Em Resumo: O Papel do Clínico na Vitamina D
A vitamina D é fundamental para a saúde dos ossos, mas não é um exame de rotina para todos.
Adultos saudáveis, sem fatores de risco, geralmente não precisam dosar ou repor vitamina D sem indicação.
A avaliação deve ser individualizada, considerando seu histórico de saúde, sintomas e fatores de risco.
Seu Clínico de Confiança: O especialista em Clínica Médica é o profissional ideal para avaliar se você realmente precisa dosar ou suplementar a vitamina D. Ele considerará seu perfil completo, indicará os exames necessários e guiará um plano de cuidado baseado em evidências e nas suas necessidades.
Conclusão
A informação correta é sua melhor aliada para cuidar da saúde. Não se deixe levar por modismos ou informações desencontradas. Se você tem dúvidas sobre sua vitamina D ou qualquer outro aspecto da sua saúde, consulte um médico de confiança.
A medicina faz mais sentido quando o cuidado é personalizado e baseado na sua história.